A Escravatura

Proposition de didactisation d’un corpus proposé par Monsieur José-Carlos Rosa

Escravidão no Brasil, pintura de Jean-Baptiste Debret (1768-1848)

Contextualização e definições

1. Contextualização e definições

1. Contextualização e definições

 Época  : Século XVII

 Literatura religiosa - Prosa.

Padre Antônio Vieira foi um grande orador. A maioria dos seus textos foi escrita no formato de sermões. São textos em prosa, de orientação moral e religiosa e têm como objetivo argumentar e persuadir o leitor.

 O Barroco

O período do Barroco é associado a exageros na linguagem, na transmissão de ideias e pensamentos e também na arte.
O Sermão estudado insere-se no período Barroco (séc. XVII). Carateriza-se pela utilização de paralelismos (senhores/escravos), contrastes (banquetear/perecer à fome), pelo pessimismo (injustiça, desigualdade, crueldade), pela linguagem erudita e trabalhada (riqueza do vocabulário, precisão sintática) e pela tentativa de conciliar a religião e o racional.

 Padre António Vieira : Prosador barroco do Século XVII

António Vieira (Lisboa, Sé, 6 de fevereiro de 1608 — Salvador de Bahia, 18 de julho de 1697), mais conhecido como Padre António Vieira, é o maior prosador barroco da literatura luso-brasileira.
Os Sermões constituem o principal da obra de Vieira.
Eles trazem a essência do estilo barroco : a tentativa de promover uma síntese entre matéria e espírito.
Nos Sermões, Vieira busca cativar o ouvinte despertando sua consciência e convidando-o a pensar e agir. Missionário em terras brasileiras, defendeu os direitos dos povos indígenas combatendo a sua exploração e escravização e fazendo a sua evangelização. Era por eles chamado "Paiaçu" (Grande Padre / Pai, em tupi).

António Vieira também defendeu os Judeus, a abolição da distinção entre cristãos-novos (judeus convertidos, perseguidos pela Inquisição) e cristãos-velhos (aqueles cujas famílias eram católicas há gerações), e a abolição da escravatura.
Criticou ainda severamente os sacerdotes da sua época e a própria Inquisição.
O gênero textual do "Sermão" lhe garantiu grande destaque pela riqueza da linguagem e pela abordagem dos temas políticos, sociais e religiosos.
Vieira foi jesuíta e polêmico, contrário aos excessos da Inquisição. Suas habilidades linguísticas, em retórica e oratória, tornaram-no o pregador oficial da corte portuguesa, mas suas ideias pouco convencionais levaram-no à prisão por heresia.

 A Inquisição : Combate à heresia

A Inquisição, ou Santa Inquisição foi um grupo de instituições dentro do sistema jurídico da Igreja Católica Romana cujo objetivo era combater a heresia, blasfémia, bruxaria e costumes considerados desviantes. Violência, tortura, ou a simples ameaça da sua aplicação, foram usadas pela Inquisição para extrair confissões dos hereges.

 A Companhia de Jesus

 O Sermão, gênero textual

Sermão (prédica ou pregação) é um discurso opinativo e religioso com intuito de convencer a audiência a respeito de uma determinada conduta ou moral por meio da contundência retórica das ideias, do discurso de autoridade sustentado em uma obra ou em dogmas religiosos e da eloquência do religioso que o profere.

 Outras referências : Controvérsia 1550 - século XVI

Questão e debate // L’esclavage selon Aristote : https://1000-idees-de-culture-generale.fr/esclavage-aristote

 Intencionalidade do autor

Foi defensor dos povos indígenas e combateu a escravidão.
Defesa dos direitos humanos.

Temáticas

2. Temáticas

2. Temáticas

 A Servidão : injustiça / desigualdade
 O Mercantilismo : mercancia / interesse
 A Justiça na fé e na religião
 A Evangelização

3. Léxico : campos lexicais e ocorrências

3. Léxico e ocorrências

Servidão

cativeiro
cativo - cativar
servir
escravo

Comércio

Vender
Comprar
Fugir
Morrer

Religião e ética

Deus (7) - Deuses (1)
Diabólico (1) - Satanás (5)
Almas (2)
Fortuna (1)
Graças

Desigualdade

Estilo

4. Estilo

4. Gênero, forma, estilo e organização retórica

Gênero : Os sermões

1. Intróito ou Exórdio : a apresentação, introdução do assunto.
2. Desenvolvimento ou argumento : defesa de uma ideia com base na argumentação.
3. Peroração : parte final, conclusão.

Estilo : Figuras

 Antíteses : oposições injustas

Felicidade / miséria
Banquetear / perecer
Senhores / escravos
Miseráveis / os que se chamam seus senhores (se autoproclamam)

Intenção : denúncia da injustiça e da crueldade pela ilustração dos contrastes

 Invocação

Vocativo e expressão do respeito
Expressão do desespero

Pedido e pesquisa de explicação, de justificação…
"Tanta mentira, tanta força bruta"

 Interrogação

Expressão da dúvida
Afirmação da certeza

 Enumeração

Expressão da insistência

 Comparações

  1. como brutos,
  2. como deuses,
  3. como estátuas,
  4. como imagens,
  5. como os nossos

Problemáticas

5. Problemáticas

5. Problemáticas

 Em que medida se pode defender a ideia de "guerra justa" ?
 Em que medida se pode considerar que a defesa do direito dos povos indígenas ilustrada no sermão do Padre Antônio Vieira responde à questão do nascimento dos direitos humanos ?
 Em que medida será possível, eticamente, considerar "positivas" algumas das consequências da colonização ? Que consequências ?
 Comentar : Religião e paradoxo : Justiça divina e injustiça humana… : Os recursos da retórica.

Para ir mais longe :

 A controvérsia de Valladolid : Sepúlveda / Las Casas… e Aristóteles
 O debate

Resumo :

O debate de Valladolid ocorreu no século XVI, envolvendo teólogos e juristas para discutir a conquista espanhola do Novo Mundo.

Bartolomeu de Las Casas defendeu os direitos dos indígenas, enquanto Juan Ginés de Sepúlveda justificou a conquista usando a teoria da escravidão natural.

O debate não teve uma decisão definitiva, mas influenciou a legislação espanhola, promovendo ideias de respeito aos direitos humanos e proibindo a escravidão dos índios.

https://jus.com.br/artigos/17394/a-controversia-de-valladolid-debate-acerca-da-guerra-justa-escravizacao-dos-indios-e-a-questao-do-nascimento-dos-direitos-humanos

Doc 1

TEXTO N°1 - A ESCRAVATURA

Texto n°1 - A escravatura

Padre Antônio Vieira foi um religioso, filósofo, escritor e e orador da Companhia de Jesus, autor de inúmeros sermões. Viveu em Portugal e no Brasil onde defendeu o direito dos povos indígenas e combateu a escravidão.

Os Israelitas atravessaram o mar Vermelho e passaram da África à Ásia fugindo do cativeiro : estes atravessam o mar Oceano na sua maior largura e passam da mesma África à América para viver e morrer cativos. Os outros nascem para viver, estes para servir [1]. Nas outras terras, do que aram [2] os homens e do que fiam e tecem as mulheres, se fazem os comércios ; naquela, o que geram [3] os pais e o que criam a seus peitos as mães, é o que se vende e o que se compra ! Ó mercancia [4] diabólica em que os interesses se tiram das almas alheias, e os riscos são das próprias ! Já, se depois de chegados olharmos [5] para estes miseráveis e para os que se chamam seus senhores, o que se viu nos dois estados de Job [strong] [6] é o que aqui representa a fortuna [7], pondo juntas a felicidade e a miséria no mesmo teatro [8]. Os senhores poucos, os escravos muitos [9] ; os senhores rompendo galas, os escravos despidos e nus ; os senhores banqueteando-se, os escravos perecendo à fome ; os senhores nadando em oiro [10] e prata, os escravos carregados de ferros ; os senhores tratando-os como brutos [11], os escravos adorando-os e temendo-os como deuses [12] ; os senhores em pé, apontando para o açoite [13], como estátuas da soberba e da tirania [14], os escravos prostrados, com as mãos atadas atrás, como imagens vilíssimas da servidão [15] e espectáculos [16] da extrema miséria.
Ó Deus ! Ó Deus ! [17] Quantas graças devemos à fé que nos destes, porque ela só nos cativa o entendimento, para que à vista destas desigualdades, reconheçamos, contudo, a vossa justiça e providência ! Estes homens não são filhos do mesmo Adão e da mesma Eva ? Estas almas não foram resgatadas com o sangue do mesmo Cristo ? Estes corpos não nascem e morrem como os nossos [18] ? Não respiram o mesmo ar ? Não os cobre o mesmo céu ? Não os aquenta o mesmo Sol ? Que estrela é logo aquela que os domina, tão triste, tão inimiga, tão cruel [19] ?

Padre Antônio Vieira, Sermões (t. XII)

Doc 2

TEXTO N°2 - A LÍNGUA PORTUGUESA NO BRASIL

Texto n°2 - A língua portuguesa no Brasil

Gilberto Freire é de família brasileira antiga. A sua obra maior Casa-grande e senzala, publicada em 1933, “transformou-se num dos grandes clássicos em que se ensina a entender o Brasil pela diferença da sua cultura”.

No ambiente da escravidão brasileira, as línguas africanas, sem motivos para subsistirem à parte, em oposição à dos brancos, dissolveram-se nela, enriquecendo-a de expressivos modos de dizer, de toda uma série de palavras deliciosas de pitoresco, muitas vezes substituindo com vantagem os vocábulos portugueses. « Número copioso de vocábulos africanos penetraram na língua portuguesa, especialmente no domínio do Brasil, por efeito das relações estabelecidas com as raças negras » disse João Ribeiro, especialista da língua nacional. Verificaram-se alterações « bastante profundas não só no que diz respeito ao vocabulário, mas até no sistema gramatical do idioma ». É certo que as diferenças que separam o português do Brasil do de Portugal não resultaram todas da influência negra africana ; mas nenhuma foi maior que a do negro. Essas palavras são hoje do nosso uso diário e nelas não sentimos qualquer sabor exôtico : é como se nos tivessem vindo de Portugal com genealogia latina, árabe ou grega. São vocábulos que nasceram e cresceram com os moleques e as negras nas senzalas e nas casas-grandes. Qual é o brasileiro que hoje estranha palavras como cafuné, molambo, caçula, moleque, cafajeste, batuque, bunda, zumbi, vatapá, mucama, quindim, berimbau, candomblé ? São palavras que correspondem melhor que as portuguesas à nossa experiência, ao nosso paladar, aos nossos sentidos, às nossas emoções.
O português do Brasil, ligando os escravos aos senhores, enriqueceu-se de uma variedade de antagonismos que falta ao português europeu.

Gilberto Freyre, Casa-Grande e Senzala. (Adaptação), 1933

Doc 3

DOCUMENTO N°3 - ICONOGRAFIA

Documento iconográfico

Metodologia

Guião - Metodologia

Elementos metodológicos

‌1. Contextualização da obra

  • a) Obra 
  • b) Autor 
  • c) Período literário 
  • d) Gênero
  • => Conhecimento do contexto (hist. pol. soc.)
  • => Pesquisas / Quadros / Datas

2. Leitura da Obra / trecho

  • a) Tempo, espaço, ação
  • b) Personagens, protagonistas, narrador
  • c) Situações, enredo
  • d) Queda da "história" ou conclusão
  • => Conhecimento da obra
  • => Apontamentos

3. Análise literária -> Intencionalidade da obra

  • a) Assunto / Temáticas
  • b) Problemáticas / Intencionalidade
  • c) Gênero (ao serviço de uma intenção)
  • d) Estilo (ao serviço da arte)
  • e) Leitor (a quem é dirigida a obra ?)
  • => Interrogar a obra / o texto
  • => Responder às problemáticas
  • => Reflexão e opiniões pessoais argumentadas

Problématiques : Thématique

Perspectives d’études : …

4. Método  

  • a) Quadros (época, lugar, personagens…)
  • b) Citações (localizadas na obra)
  • c) Estrutura da obra (Capítulos, Atos, cenas)
  • d) Elementos estilísticos
  • e) Pesquisas pessoais…

Notes

Notes

Notes
[1] En cours de développement

[2] Referência : Aristóteles

[3] Arar : cultivar

[4] Gerar : engendrer

[5] Mercancia : marchandise, mercantilisme

[6] O "eu/nós" lírico, retórico

[7] Job ou Jó : Job representa o arquétipo do justo cuja fé foi abalada pela intervenção de Satanás, com permissão de Deus.
Nasceram-lhe sete filhos e três filhas (Jó 1, 2). Possuía ele sete mil ovelhas, três mil camelos, mil juntas de bois e quinhentas jumentas, tendo também muitos servos ; de modo que este homem era o maior de todos do Oriente.

Chegado o dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles. Disse o Senhor a Satanás : "Notaste porventura o meu servo Jó, que ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, que teme a Deus, e se desvia do mal ?" (Jó 1, 6,8). Satanás, entretanto, desafia a integridade de Jó, e então Deus permite que Satanás interfira na vida de Jó, resultando na tragédia de Jó : a perda instantânea de seus bens, de seus filhos e de sua saúde.
Jó, porém, não blasfemou contra Deus…

[8] Juntas de bois : dupla de bois utilizados para desenvolver trabalhos de tração em atividades rurais.

[9] Fortuna : le sort, la chance, le destin…

[10] Teatro : Sentido figurado, (palco, cena) lugar onde se deu um acontecimento.

[11] Quiasma

[12] Oiro = ouro

[13] Comparação

[14] Comparação

[15] Açoite : castigo, chicote…

[16] Comparação

[17] Comparação

[18] Br : espetáculos

[19] Vocativo : figura para chamar ou interpelar o interlocutor (neste caso o próprio Deus) no discurso direto, expressando-se por meio do apelativo.

[20] Comparação

[21] Cruel : última palavra do texto. Paroxismo da ideia ilustrada, combatida.


[1Referência : Aristóteles

[2Arar : cultivar

[3Gerar : engendrer

[4Mercancia  : marchandise, mercantilisme

[5O "eu/nós" lírico, retórico

[strongJob ou Jó : Job representa o arquétipo do justo cuja fé foi abalada pela intervenção de Satanás, com permissão de Deus.
Nasceram-lhe sete filhos e três filhas (Jó 1, 2). Possuía ele sete mil ovelhas, três mil camelos, mil juntas de bois e quinhentas jumentas, tendo também muitos servos ; de modo que este homem era o maior de todos do Oriente.

Chegado o dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles. Disse o Senhor a Satanás : "Notaste porventura o meu servo Jó, que ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, que teme a Deus, e se desvia do mal ?" (Jó 1, 6,8). Satanás, entretanto, desafia a integridade de Jó, e então Deus permite que Satanás interfira na vida de Jó, resultando na tragédia de Jó : a perda instantânea de seus bens, de seus filhos e de sua saúde.
Jó, porém, não blasfemou contra Deus…

[6Juntas de bois : dupla de bois utilizados para desenvolver trabalhos de tração em atividades rurais.

[7Fortuna : le sort, la chance, le destin…

[8Teatro : Sentido figurado, (palco, cena) lugar onde se deu um acontecimento.

[9Quiasma

[10Oiro = ouro

[11Comparação

[12Comparação

[13Açoite : castigo, chicote…

[14Comparação

[15Comparação

[16Br : espetáculos

[17Vocativo : figura para chamar ou interpelar o interlocutor (neste caso o próprio Deus) no discurso direto, expressando-se por meio do apelativo.

[18Comparação

[19Cruel  : última palavra do texto. Paroxismo da ideia ilustrada, combatida.

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