Clarice Lispector - Felicidade clandestina
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Mis à jour le mercredi 15 janvier 2025 , par
Felicidade Clandestina
Relações de Poder : promessas nunca cumpridas, materializam a esperança… e acabam por desiludir, até que…
Essa história conta uma passagem do início da adolescência da autora Clarice Lispector.
Publicado em 1971, o livro Felicidade clandestina reúne 25 contos da escritora brasileira Clarice Lispector. Também é o título do primeiro conto.
Os contos abordam os temas da infância, da adolescência e da família, mas também o das angústias da alma.
A descrição dos ambientes, das personagens e o enredo perdem a importância para a revelação profunda do carácter e dos sentimentos das personagens."
Synopsis
Sinopse
Felicidade Clandestina. A narradora recorda um episódio de seu tempo de menina. Uma garota, cujo pai era dono de livraria, disse à colega que possuía o livro Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Tratava-se de um dos objectos de desejo da protagonista - que também é a narradora - e ela o pediu emprestado. A dona comprometeu-se a fazê-lo, mas, por dias seguidos, transferia a entrega para o dia seguinte sob as mais diversas justificativas. Até que, a certa altura, a mãe da dona do livro descobriu tudo e fez a filha emprestar o livro.
Vidéo du texte dit
Felicidade Clandestina na voz de Maga Bianchi
Direção : Alberto Duran
Assistente : Marília Câmara
Fotografia : Bruce Douglas
Atriz : Maga Bianchi
MAGA : Formação profissional superior em Artes Cênicas e Produção em Telejornalismo. Mais de 200 filmes publicitários em formação de opinião ; Apresentação de 3 programas de TV ; 4 longas - 3 curtas ; 3 novelas ; Mestre de cerimônias.
Informações e Contato : magabianchi yahoo.com.br
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Court-métrage 1
Curta-metragem
Court-métrage 2
Curta-metragem de Beto Normal
Clandestina Felicidade, Ficção, 1998,
De : Beto Normal, Marcelo Gomes
Fragmentos de infância, descoberta do mundo pelo olhar curioso, perplexo e profundo da criança-escritora Clarice Lispector.
« Felicidade Clandestina » reúne varios textos de Clarice Lispector. Foram publicados como crônicas no Jornal do Brasil entre 1967 a 1972.
Texte intégral
Felicidade Clandestina : Texto original
De Clarice Lispector
Felicidade clandestina - La première nouvelle (Texte)
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia : continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia. Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria. Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria : eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam. No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí : guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez. Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma : o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do "dia seguinte" com ela ia se repetir com meu coração batendo. E assim continuou. Quanto tempo ? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito : como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra. Quanto tempo ? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. As vezes ela dizia : pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados. Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou : mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler ! E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio : a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha : você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim : "E você fica com o livro por quanto tempo quiser." Entendem ? Valia mais do que me dar o livro : "pelo tempo que eu quisesse" é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer. Como contar o que se seguiu ? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo. Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei ! Eu vivia no ar… Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada. Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo. Não era mais uma menina com um livro : era uma mulher com o seu amante… |
Clarice Lispector, em Felicidade Clandestina, 1971.
Hommage
Merci à Samantha pour le lien.
Homenagem
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