Os Anos de chumbo

Les "Années de plomb" au Brésil : Dictature & Résistance

Na teleaula Os anos de chumbo, você vai conhecer como o governo usava a censura e a repressão para impedir protestos ; como os militares relacionavam estabilidade política e desenvolvimento com segurança nacional. E, por fim, ainda vai ver como as artes acabaram se transformando numa forma de resistência ao regime autoritário.

PRIMEIRA PARTE

CENSURA E REPRESSÃO

Transcrição e exercício

Transcrição

Os anos de Chumbo

Teleaula n°35

0:08
Atenção ! Começa agora uma teleaula de história do ensino fundamental.
0:13
Você vai assistir à teleaula de número 35. Bons estudos ! [História – O Brasil entre a democracia e o autoritarismo – Unidade IV]
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[Este é um país que vai para a frente, oho oh o…..]
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Essa música fez muito sucesso no Brasil no começo dos anos 70. É, na verdade, é uma
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das músicas utilizadas pelo regime militar como propaganda dos seus feitos
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no ano passado quando o rádio passava músicas como essa
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o Brasil vivia uma das fases mais duras de repressão política da sua história.
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Eram os Anos de chumbo, que nós vamos conhecer nesta teleaula.
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Hoje, você ainda vai conhecer como o governo usava censura e a repressão para impedir protestos.
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Como os militares relacionavam estabilidade política e desenvolvimento do plano de segurança nacional. E por fim, ainda vai ver como
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As artes acabaram se transformando numa forma de resistência ao regime
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autoritário. (Eu te amo, meu Brasil, eu te amo, meu coração é verde, amarelo e azul…]
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Você já ouviu falar em Milagre brasileiro ?
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Em milagres, certamente você já ouviu falar !
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São as causas impossíveis conquistadas por milagreiros como esse aqui.
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Mas não é desse milagre que nós vamos falar.
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Nós estamos falando do Milagre brasileiro !
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[Dicionário ] - Milagre brasileiro :
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nome pelo qual ficou conhecido o curto período da história do Brasil, no começo dos anos 70,
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onde o nosso país viveu uma época de grande desenvolvimento econômico
[Dicionário - Milagre brasileiro
2:13
Prá frente Brasil – Este é um país que vai prá frente… oh oh oh oh…..]
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[Portáteis GE fazem sua mulher durar muito mais.
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Classe dominante.]
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[O que é bom para o Brasil é bom para o mundo. Exportamos pneuses, cabos elétricos para 43 países.]
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Como você viu, o Milagre brasileiro foi um período em que o país viveu um grande
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desenvolvimento económico,
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sob o governo do Presidente Médici.
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Mas, como será que o regime militar consegui um verdadeiro milagre ? - [1969 → 1973]
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Para conseguir o [perar] milagre brasileiro, o regime militar conseguiu combinar
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um extraordinário crescimento econômico com taxas baixas de inflação.
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A inflação média anual não passou de 18%.
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Neste quadro, facilitou a vida de capitais estrangeiros e a associação
3:15
de empresas nacionais com empresas multinacionais, ou seja de outros países.
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Prometendo estabilidade política ao capital
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estrangeiro, o regime militar atraiu empréstimos para grandes obras e novos investimentos.
3:31
O aumento da riqueza produzida no país resultou numa melhoria de vida
3:35
para uma parcela da população : a classe média.
3:39
Por outro lado, os salários foram contidos no quadro social agravou-se…

O texto

Atenção ! Começa agora uma teleaula de história do ensino fundamental.
Você vai assistir à teleaula de número 35. Bons estudos !
[História – O Brasil entre a democracia e o autoritarismo – Unidade IV]
[Este é um país que vai para a frente, oho oh o…..]
Essa música fez muito sucesso no Brasil no começo dos anos 70. É, na verdade, é uma das músicas utilizadas pelo regime militar como propaganda dos seus feitos no ano passado quando o rádio passava músicas como essa
o Brasil vivia uma das fases mais duras de repressão política da sua história.
Eram os Anos de chumbo, que nós vamos conhecer nesta teleaula.
Hoje, você ainda vai conhecer como o governo usava censura e a repressão para impedir protestos.
Como os militares relacionavam estabilidade política e desenvolvimento do plano de segurança nacional. E por fim, ainda vai ver como as artes acabaram se transformando numa forma de resistência ao regime autoritário. (Eu te amo, meu Brasil, eu te amo, meu coração é verde, amarelo e azul…)
Você já ouviu falar em Milagre brasileiro ?
Em milagres, certamente você já ouviu falar !
São as causas impossíveis conquistadas por milagreiros como esse aqui.
Mas não é desse milagre que nós vamos falar. Nós estamos falando do Milagre brasileiro !
[Dicionário ] - Milagre brasileiro : nome pelo qual ficou conhecido o curto período da história do Brasil, no começo dos anos 70, onde o nosso país viveu uma época de grande desenvolvimento econômico [Dicionário - Milagre brasileiro Prá frente Brasil – Este é um país que vai prá frente… oh oh oh oh…..]
[Portáteis GE fazem sua mulher durar muito mais. Classe dominante.]
[O que é bom para o Brasil é bom para o mundo. Exportamos pneuses, cabos elétricos para 43 países.]
Como você viu, o Milagre brasileiro foi um período em que o país viveu um grande desenvolvimento econômico, sob o governo do Presidente Médici.
Mas, como será que o regime militar conseguiu um verdadeiro milagre ? - [1969 → 1973]
Para conseguir operar milagre brasileiro, o regime militar conseguiu combinar
um extraordinário crescimento econômico com taxas baixas de inflação.
A inflação média anual não passou de 18%.
Neste quadro, facilitou a vida de capitais estrangeiros e a associação
de empresas nacionais com empresas multinacionais, ou seja de outros países.
Prometendo estabilidade política ao capital estrangeiro, o regime militar atraiu empréstimos para grandes obras e novos investimentos.
O aumento da riqueza produzida no país resultou numa melhoria de vida
para uma parcela da população : a classe média.
Por outro lado, os salários foram contidos no quadro social agravou-se…

Exercício

Exercício

Correction d’une transcription automatique

Emende os erros…
3:44
cinco homens das cavernas
3:46
os menores abandonados toda violência urbana
3:51
para explicar essa diferença é brutal
3:54
onde alguns ficavam mais ricos e outros ainda mais pobres.
3:57
O então Ministro da Fazenda Delfim Neto
4:00
repetiu uma frase que se tornou clássica na história do período militar
4:06
“é preciso fazer o bolo crescer
4:08
e depois
4:09
vamos repartindo”
4:11
ou seja, eles diziam
4:13
que 1º o país precisava ficar rico
4:16
e só depois é que esta riqueza seria distribuída à população.
4:21
E será que ninguém falava nada
4:24
ninguém protesta
4:28
como nos habituamos a última hora
4:30
pode estar naquela época era muito difícil
4:32
ainda mais depois que foi editado o humorístico
4:35
a tupy institucional número cinco
4:37
a então
4:38
ficou praticamente possível
4:40
por aqui ninguém contesta sei mais o que o governo queria passar foi preciso
4:44
manter sob controle
4:45
os sindicatos, as comunicações,
4:48
as artes e até mesmo os professores.
4:51
Resumindo,
4:52
foi instituída a censura prévia
4:58
2 no governo mede-se todo esse dinheiro turquia e sérvia tudo que se via tinha
5:04
que ser autorizado pela censura federal

A propaganda : Cartazes

Os anos de chumbo

A letra da canção

Letra da canção Cálice

Chico Buarque de Holanda e Milton Nascimento

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta ao peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito resta à cuca
Dos bêbados do centro da cidade

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça

Letra : Chico Buarque de Holanda

Uma análise

Censura…

Nota sobre Cálice

Por Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello

Este é mais um exemplo de letra contra a censura, predominante entre nossos compositores à época (1973) em que a canção foi criada.
Na verdade, "Cálice" destinava-se a um grande evento promovido pela PolyGram, que reuniria em duplas os maiores nomes de seu elenco, e no qual deveria ser cantada por Gilberto Gil e Chico Buarque.
No livro Todas as letras, Gil narra em detalhes a história da canção, a começar pelo encontro inicial dos dois no apartamento em que Chico morava, na Lagoa Rodrigo de Freitas, ocasião em que lhe mostrou os versos que fizera na véspera, uma sexta-feira da Paixão.
Tratava-se do refrão ("Pai, afasta de mim este cálice / de vinho tinto de sangue"), uma óbvia alusão à agonia de Jesus no Calvário, cuja ambigüidade (cálice / cale-se) foi imediatamente percebida por Chico.
Gil levara-lhe ainda a primeira estrofe ("Como beber dessa bebida amarga / tragar a dor, engolir a labuta / mesmo calada a boca, resta o peito / silêncio na cidade não se escuta / de que vale ser filho da santa / melhor seria ser filho da outra…"), lembrando a "bebida amarga", uma bebida italiana chamada Fernet [1], que o dono da casa muito apreciava e sempre lhe oferecia, enquanto "o silêncio na cidade não se escuta" significava que "no barulho da cidade não é possível escutar o silêncio", ou "não adianta querer o silêncio porque não há silêncio", ou seja, metaforicamente : "não há censura, a censura é uma quimera", pois "mesmo calada a boca, resta o peito, resta a cuca" [2].
Deste e mais outro encontro, dias depois, saíram a melodia e as demais estrofes, quatro no total, sendo a primeira e a terceira ("De muito gorda a porca já não anda…") de Gil, a segunda ("Como é difícil acordar calado…") e a quarta ("Talvez o mundo não seja pequeno…") de Chico.
No dia do show, quando os dois começaram a cantar "Cálice" desligaram o microfone. "Tenho a impressão de que ela tinha sido apresentada à censura, tendo-nos sido recomendado que não a cantássemos, mas nós fizemos uma desobediência civil e quisemos cantá-la", conclui Gil. Irritadíssimo com o microfone desligado, Chico tentava outro mais próximo, que era cortado em seguida, e assim, numa cena tragicômica, foram todos sendo "calados", impedindo-o de cantar "Cálice" até o fim.
Liberada cinco anos depois, a canção foi incluída no elepê anual de Chico, com ele declarando que aquele não era o tipo de música que compunha na época (estava trabalhando no repertório de "Ópera do Malandro"), mas teria que ser registrado, pois sua tardia liberação (juntamente com "Apesar de Você" e "Tanto Mar") não pagava o prejuízo da proibição. Na gravação, as estrofes de Gilberto Gil, que estava trocando a PolyGram pela WEA, são interpretadas por Milton Nascimento, fazendo o coro o MPB 4, em dramático arranjo de Magro.

Fonte : Livro 85 anos de Música Brasileira Vol. 2, 1ª edição, 1997, editora 34
Nota sobre Cálice

Outra análise

http://dialogolinguistico.blogspot.com/2010/05/analise-da-musica-calice.html?m=1

Diálogo Linguístico
Blog para alunos e pessoas interessadas em ver novidades e contribuir para que a nossa língua seja estudada para além da gramática.

quarta-feira, 5 de maio de 2010
ANÁLISE DA MÚSICA CÁLICE
ANALISE DAS METAFORAS DA MUSICA CALICE

“Cálice” uma das músicas mais panfletárias do Chico Buarque, somando-se o fato dele ter como parceiro a genialidade do Gil, fizeram uma grande obra. A análise é extensa por conta de que todos os versos vêm imbuídos de metáforas usadas para contar o drama da tortura no Brasil no período da ditadura militar.

(Pai, afasta de mim esse cálice)
Sintetiza uma súplica por algo que se deseja ver à distância. Boa parte da música faz uma analogia entre a Paixão de Cristo e o sofrimento vivido pela população aterrorizada com o regime autoritário. O refrão faz uma alusão à agonia de Jesus no calvário, mas a ambigüidade da palavra “cálice” em relação ao imperativo “cale-se”, remete à atuação da censura.

(De vinho tinto de sangue)
O “cálice” é um objeto que contém algo em seu interior. Na Bíblia esse conteúdo é o sangue de Cristo, na música é o sangue derramado pelas vítimas da repressão e torturas.

(Como beber dessa bebida amarga)
A metáfora do verso remete à dificuldade de aceitar um quadro social em que as pessoas eram subjugadas de forma desumana.

(Tragar a dor, engolir a labuta)
Significa a imposição de ter que agüentar a dor e aceitá-la como algo banal e corriqueiro. “Engolir a labuta” significa ter que aceitar uma condição de trabalho subumana de forma natural e passiva.

(Mesmo calada a boca, resta o peito)
Os poetas afirmam que mesmo a pessoa tendo a sua liberdade de pronunciar-se cerceada, ainda lhe resta o seu desejo, escondido e inviolável dentro do seu peito.

(Silêncio na cidade não se escuta)
O silêncio está metaforicamente relacionado à censura, que, desta forma, é entendida como uma quimera, um absurdo inexistente, porque, na medida em que o silêncio não se escuta, o silêncio não existe.

(De que me vale ser filho da santa / Melhor seria ser filho da outra)
Não fugindo à temática da religião, Chico e Gil usam de metáforas para mostrar suas descrenças naquele regime político e rebaixam a figura da “pátria mãe” à condição inferior a de uma “prostituta”, termo que fica subentendido na palavra “outra”.

(Outra realidade menos morta)
Seria uma outra realidade, na qual os homens não tivessem sua individualidade e seus direitos anulados.

(Tanta mentira, tanta força bruta)
O regime militar propagandeava que o país vivia um “milagre econômico” e todos eram obrigados a aceitar essa realidade como uma verdade absoluta.

(Como é difícil acordar calado / se na calada da noite eu me dano)
O eu-lírico admite a dificuldade de aceitar passivamente as imposições do regime, principalmente diante das torturas e pressões que eram realizadas à noite. Tudo era tão reprimido que necessitava ser feito às escondidas, de forma clandestina.

(Quero lançar um grito desumano / que é uma maneira de ser escutado)
Talvez porque ninguém escutasse as mensagens lançadas por vias pacíficas e ordeiras, uma das possibilidades, por conta de tanto desespero, seria partir para o confronto.

(Esse silêncio todo me atordoa)
Esse verso denuncia os métodos de torturas e repressão, utilizados para conseguir o silêncio das vítimas, fazendo-as perderem os sentidos.

(Atordoado, eu permaneço atento)
Mesmo atordoado o eu-lírico permanece atento, em estado de alerta para o fim dessa conjuntura, como se estivesse esperando um espetáculo que estaria por vir.

(Na arquibancada, pra a qualquer momento ver emergir o monstro da lagoa)
Entretanto, o espetáculo pode ser, ironicamente, somente o surgimento de mais um mecanismo de imposição de poder do regime, representado pelo monstro da lagoa.

(De muito gorda a porca já não anda)
Essa “porca” refere-se ao sistema ditatorial, que, de tão corrupto e ineficiente, já não funcionava. O porco também é um símbolo da gula, que está entre os sete pecados capitais, retomando a temática de religiosidade e elementos católicos.

(De muito usada a faca já não corta)
Demonstra inoperância, ou seja, mostra o desgaste de uma ferramenta política utilizada à exaustão.

(Como é difícil, pai, abrir a porta)
É expresso o apelo para que sejam diminuídas as dificuldades, mas ao mesmo tempo apresenta a tarefa como sendo muito difícil. A porta representa a saída de um contexto violento. Biblicamente, sinaliza um novo tempo.

(Essa palavra presa na garganta)
É a dificuldade para encontrar a liberdade, a livre expressão. É o desejo de falar, contar e descrever a todos a repressão que está sendo imposta.

(Esse pileque homérico no mundo)
Refere-se ao desejo de liberdade contido no peito de cada cidadão dos países vivendo sob os vários regimes autoritários existentes no mundo.

(De que adianta ter boa vontade)
É um autoquestionamento sobre a ânsia de lutar pela liberdade, uma vez que o mundo estava ao avesso. Refere-se a uma frase bíblica : “paz na terra aos homens de boa vontade”.

(Mesmo calado o peito resta a cuca dos bêbados do centro da cidade)
Mesmo sem liberdade o homem não perde a mente e pode continuar pensando.

(Talvez o mundo não seja pequeno nem seja a vida um fato consumado)
A partir deste verso o eu-lírico sugere a possibilidade de a realidade vir a ser diferente, renovando suas esperanças.

(Quero inventar o meu próprio pecado)
Expressa a vontade de libertar-se da imposição do erro por outros para recriar suas próprias regras e definir por si só, quais são seus erros, sem que outros o apontem. Tem o significado de estar fora da lei. O verbo aproxima-se do desejo urgente e real de liberdade.

(Quero morrer do meu próprio veneno)
Neste verso está implícito que ele deseja ser punido pelos erros que ele vier a praticar seguindo o seu livre-arbítrio, e não, tendo seu desejo cerceado, punido por erros que o sistema acha que ele poderá vir a cometer.

(Quero perder de vez tua cabeça / minha cabeça perder teu juízo)
Traz a idéia de que o eu-lírico deseja ter seu próprio juízo e não o do poder repressor. Quer decapitar a cabeça da ditadura e libertar-se do juízo imposto por ela, para ser dono de suas próprias idéias.

(Quero cheirar fumaça de óleo diesel / me embriagar até que alguém me esqueça)
Para encerrar, Chico e Gil usaram uma imagem forte das táticas de tortura. Para fazer com que os subjugados perdessem a noção da realidade, dentro da sala os repressores queimavam óleo diesel, cuja fumaça deixava-os embriagados. Entretanto, os subjugados também possuíam táticas antitortura, e uma das artimanhas era justamente fingir-se desmaiado, pois, enquanto nesta condição, não eram molestados pelos torturadores.

AUTOR = Sérgio Soeiro


[1Fernet é uma bebida alcoólica amarga (bitter) obtida por meio da maceração no álcool de diversas ervas e raízes medicinais, entre elas o ruibarbo, e a genciana, a quina, o alóes e o agárico ; é usado como digestivo e tônico.

Fernet foi criado em 1845 por Bernardino Branca em Milão, na Itália. A preparação era mexida com uma barra de ferro que ficava brilhante com o uso, possivelmente por ação de substância contidas nos vegetais utilizados ; daí o nome da bebida(fer+net, no dialeto milanês do italiano significa ferro limpo). O uso do Fernet popularizou-se a partir da epidemia de cólera de 1865, surgida na Europa mediterrânea, pois ele é anticolérico. Apesar de ser inventado na Itália o Fernet é praticamente visto como uma bebida Argentina, principalmente devido a grande imigração de italianos para esse país e por ser lá o país mais consumidor do mundo da bebida. Os italianos usam o Fernet misturado no café, já no Brasil pode-se encontrar usuários que o põem na cachaça, como uma variedade de rabo-de-galo.

[2A Cuca é um dos principais seres mitológicos do folclore brasileiro. Ela é conhecida popularmente como uma bruxa velha e feia (a forma de jacaré foi criada para as séries de TV) que rouba as crianças. A origem desta lenda está num dragão, a cuca das lendas portuguesas, tradição que foi levada para o Brasil na época da colonização. No Brasil, a "Cuca" normalmente é descrita como tendo a forma de um jacaré com longos cabelos loiros. Isso na verdade se tornou mais popular por causa das várias adaptações para a televisão da obra infantil de Monteiro Lobato, o Sítio do Picapau Amarelo, onde a personagem era sempre representada por uma atriz com uma fantasia de jacaré de cabelo amarelo. No livro original escrito por Monteiro Lobato em 1921, a personagem é descrita apenas como uma bruxa velha (sem rosto de jacaré), e unhas compridas, enormes como as de um gavião.

O Novo Dicionário da Língua Portuguesa de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira traz cuca significando bicho-papão, coco, papa-gente, tutu, bitu, boitatá, papa-figo. A cuca é um bicho imaginário criado e usado para fazer medo às crianças choronas que não querem dormir.

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